Dr. Alejandro Zoboli

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4 Informações Surpreendentes Sobre Tornozelos “Fracos” que Vão Mudar Como Você Pensa em Lesões

Instabilidade Tornozelo

Se você já sofreu uma entorse de tornozelo, provavelmente conhece a frustração que se segue. A dor inicial diminui, o inchaço (edema) cede, mas algo ainda não parece certo. O tornozelo parece “fraco”, instável, e a cada passo em um terreno irregular ou com o uso de saltos, surge o medo de uma nova lesão. Esse ciclo de novos entorses e a sensação persistente de que o tornozelo pode “falsear” a qualquer momento é uma experiência comum, levando muitos a acreditar que estão simplesmente condenados a ter um “tornozelo fraco” por assim dizer.

Essa percepção, no entanto, é baseada em uma compreensão simplificada do que realmente acontece após uma lesão ligamentar. A pesquisa médica e a fisiologia do esporte revelaram que a instabilidade crônica do tornozelo é um problema muito mais complexo do que simplesmente ter ligamentos “frouxos”. Muitas das nossas suposições sobre diagnóstico e tratamento não contam a história completa.

Este artigo irá desvendar quatro informações importantes, impactantes e contraintuitivas sobre a instabilidade do tornozelo. Baseado em uma análise da literatura científica, vamos separar mitos de fatos e fornecer uma nova perspectiva sobre por que seu tornozelo se apresenta instável e o que realmente funciona para recuperar a confiança e a função.

Informação 1: “Instabilidade” Não é o Mesmo que “Frouxidão”

Um dos maiores equívocos sobre a saúde do tornozelo é o uso intercambiável dos termos “instabilidade” e “frouxidão”. Na prática clínica e na pesquisa, eles significam coisas muito diferentes, e entender essa distinção é importante.

“Instabilidade” é um sintoma. É a experiência subjetiva que o paciente relata — a sensação de que o tornozelo “falseia” ou vai ceder durante atividades. É o sentimento de desconfiança que limita a participação em esportes ou até mesmo em atividades diárias. Por outro lado, “frouxidão” (ou laxidade) é um sinal físico. É algo que um médico ou fisioterapeuta pode medir durante um exame clínico, avaliando o movimento excessivo na articulação ao aplicar força.

O ponto mais surpreendente é que essas duas condições podem existir de forma independente. Como a literatura aponta, “um paciente pode apresentar frouxidão mínima (ou seja, instabilidade mecânica), mas relatar uma sensação recorrente ou vários episódios reais de falseio do tornozelo (ou seja, instabilidade funcional)”. Essa dissociação tem uma implicação clínica fundamental: se um paciente se sente muito instável, mas não apresenta frouxidão mensurável ou ela é mínima, o papel da cirurgia torna-se mais incerto (pelo menos no que tange a reconstrução ligamentar). Nestes casos, a opção mais segura e indicada é um período de reabilitação intensiva e supervisionada de 6 a 12 semanas para restaurar o controle neuromuscular, que provavelmente é a verdadeira fonte da estabilidade e avaliar em conjunto a presença de outras alterações osteomusculares (ex: presença de músculos acessórios, ventres musculares baixos, etc…).

Informação 2: Sua Ressonância Magnética Pode Não Contar a História Completa

Em nossa era de tecnologia médica avançada, é natural acreditar que um exame de imagem como uma ressonância magnética (RM) revelará a resposta definitiva para a dor ou instabilidade no tornozelo. Embora a RM seja extremamente útil para identificar problemas associados, como lesões de cartilagem, lesões tendíneas, ligamentares ou contusões ósseas, ela não é a ferramenta principal para diagnosticar a instabilidade funcional.

A razão para isso está ligada à primeira verdade: “frouxidão e instabilidade não são sinônimos, e que um ligamento rompido ou com alterações cicatriciais prévias pode não resultar necessariamente em um tornozelo instável”. Uma ressonância magnética pode mostrar um ligamento que parece alongado ou com cicatrizes de uma lesão antiga, mas não pode dizer como o paciente se sente ou funciona. Da mesma forma, o uso rotineiro de radiografias de estresse para medir a frouxidão é fortemente desaconselhado, com a literatura observando que sua utilidade para a tomada de decisões é “duvidosa”.

O diagnóstico e o plano de tratamento mais eficazes vêm de um exame clínico completo, de um histórico detalhado do paciente e associado a exames de imagem complementares. A experiência do paciente — os episódios de falseio, a dor, a perda de confiança — é mais importante do que o que as imagens mostram isoladamente. Esta abordagem é tão fundamental que os especialistas enfatizam sua importância:

Essa dissociação deve levar os clínicos a “tratar o paciente, não as imagens”.

Informação 3: A Esparadrapagem ou Tapping é Mais Psicológica do que Física (e o que Realmente Funciona)

Para atletas e pessoas ativas que lidam com instabilidade no tornozelo, a bandagem com fita adesiva (tapping) parece uma solução lógica e imediata. No entanto, trabalhos mostram que a bandagem de tornozelo perde mais de 50% de seu efeito estabilizador após apenas 10 minutos de exercício. Embora a fita possa fornecer um feedback sensorial (proprioceptivo), ela funciona mais como um lembrete do que como uma barreira física robusta durante a atividade.

Uma alternativa de suporte externo mais prática e duradoura são as órteses de tornozelo (braces).

Brace de Tornozelo

Diferente da fita, as órteses são facilmente ajustáveis quando o suporte diminui e demonstraram ser igualmente eficazes na prevenção de lesões. De fato, um estudo revelou que jogadores de basquete que não usavam órtese tiveram 3 vezes mais entorses de tornozelo em comparação com aqueles que usavam.

No entanto, o verdadeiro pilar da estabilidade não é um suporte externo, mas a força muscular de cada paciente. A literatura é clara: a solução mais robusta e duradoura é o fortalecimento dos músculos fibulares, que correm ao longo da parte lateral da perna / tornozelo. A conclusão da literatura é inequívoca: “a ativação oportuna de músculos fibulares fortes exerce a melhor ação preventiva contra lesões por inversão do tornozelo na aterrissagem do pé”. O verdadeiro “escudo” contra futuros entorses não é algo que você coloca no tornozelo, mas sim algo que você constrói através de uma reabilitação focada e consistente.

Informação 4: Nem Toda Cirurgia é Igual: O Abismo Entre o Antigo e o Novo

Quando ao tratamento conservador falha e há indicação cirúrgica, é crucial entender que nem todos os procedimentos cirúrgicos para instabilidade do tornozelo são iguais. As técnicas se dividem em duas categorias: reparos “anatômicos” e “não anatômicos”. O reparo anatômico, cujo procedimento fundamental é o de Broström, visa restaurar a anatomia normal reparando e tensionando os ligamentos originais.

Procedimento de Bostrom

Em contraste, as reconstruções não anatômicas usam enxertos de tendões locais para criar uma restrição de movimento, como um “freio”, sem reparar os ligamentos lesionados. Consequentemente, elas alteram fundamentalmente a biomecânica do tornozelo e do retropé.

Os resultados a longo prazo mostram uma diferença dramática. Um estudo retrospectivo que acompanhou pacientes por 15 a 30 anos revelou uma disparidade impressionante: o reparo anatômico (técnica de Karlsson, uma modificação do Broström) alcançou 80% de resultados bons a excelentes. Em comparação, a tenodese não anatômica (técnica de Evans) obteve apenas 33% de resultados bons a excelentes.

Além disso, as técnicas não anatômicas mais antigas estão associadas a taxas mais altas de complicações, como lesão do nervo sural e uma sensação desconfortável de que o reparo ficou “apertado demais”. Para os pacientes, essa informação é fundamental. Saber que existem abordagens cirúrgicas distintas, com taxas de sucesso muito diferentes, capacita você a fazer perguntas informadas ao seu cirurgião sobre o tipo de procedimento proposto e por que ele é a melhor escolha para restaurar a função, e não apenas restringir o movimento.

Conclusão: Repensando a Recuperação do Tornozelo

Entender a instabilidade crônica do tornozelo exige uma visão que vai além de ligamentos “soltos” e imagens de ressonância magnética. A verdadeira estabilidade não se resume à frouxidão mecânica, mas sim a um sistema complexo que envolve a função relatada pelo paciente, o controle neuromuscular, a força muscular e, quando a cirurgia é necessária, a escolha de técnicas modernas que respeitem a anatomia natural da articulação. O foco deve estar sempre em restaurar a função e a confiança, e não apenas em tratar uma imagem ou um teste clínico isolado.

Caso tenha uma instabilidade crônica do tornozelo e necessite tratar ou de mais informações é fundamental entrar em contato com um Ortopedista Especialista em Pé e Tornozelo.

Fonte: Pubmed

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